O Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro fez a denúncia contra o pastor Marcos Pereira pelo estupro de fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), e revelou que para cada denúncia, foi instaurado um inquérito policial, como forma de “facilitar a individualização de cada crime”.
A denúncia foi assinada pelos promotores Rogério Lima Sá Ferreira e Adriana Lucas Medeiros, e teve trechos reproduzidos pelo portal Terra. O texto dos promotores diz que “pelos relatos das testemunhas, principalmente das mulheres, verifica-se que estamos diante de um verdadeiro depravado, degenerado, pervertido sexual, capaz de fazer as coisas mais baixas e sempre se aproveitando da sua condição de líder maior da Igreja”.
Inicialmente acusado de associação ao tráfico de drogas, Marcos Pereira passou a ser investigado por outros crimes no decorrer do inquérito, revela o texto do MP: “Acontece, porém, que no decorrer da investigação dos crimes acima, foram surgindo notícias gravíssimas de outros crimes, como homicídio, lavagem de dinheiro, estupros, roubo por parte do denunciado”.
Na denúncia, o MP ressalta a condição de inferioridade hierárquica das mulheres que supostamente foram estupradas por Marcos Pereira: “Todas as mulheres vítimas do denunciado viveram na sua igreja por alguns anos. Elas viviam em função da Igreja presidida pelo denunciado. Moravam nos alojamentos existentes na Igreja. Eram dependentes materialmente e emocionalmente do denunciado. E para aquelas que se recusavam a ceder aos seus instintos bestiais, o denunciado as ameaçava de despejo, de morte fora da Igreja”, pontua o texto.
Segundo o site da revista Veja, um ex-funcionário da ADUD que deixou a denominação em 2009, e resolveu fazer denúncias em 2012, relatou à Polícia que o pastor Marcos Pereira orquestrava rebeliões para depois ser procurado como mediador pelas autoridades, e assim, finalizar com os tumultos nos presídios.
O texto da jornalista Pâmela Santos diz que “a lista de encenações inclui a mais famosa delas, em 2004, quando o pastor foi chamado pelo então secretário de Segurança, Anthony Garotinho, hoje deputado federal pelo PR, para conter um motim na Casa de Custódia de Benfica, na Zona Norte. Na ocasião, morreram 34 detentos de facções inimigas do Comando Vermelho”, com quem o pastor Marcos Pereira teria mantido contato próximo. A acusação do ex-funcionário diz ainda que a trama para a rebelião teria sido feita entre o pastor e Silvana Santos da Silva, irmã do traficante Márcio Nepomuceno dos Santos, conhecido como Marcinho VP.
Este ex-funcionário da ADUD, que a revista Veja não revelou o nome, afirma que um grupo de quatro crianças – três meninas e um menino – com idades entre 6 e 13 anos, filhos de um criminoso preso em Bangu, viveram agressões por parte de Marcos Pereira, que as abrigava no alojamento da ADUD.
Segundo o relato, a menina mais nova, de 6 anos, foi agredida e acusada de estar possuída e mentir. A garota havia ameaçado contar a uma tia que havia flagrado suas duas irmãs fazendo sexo anal com o pastor Marcos Pereira.
As acusações do ex-funcionário dão conta que Marcos Pereira “fez sexo com diversas irmãs ao mesmo tempo em motéis”, e que eram contratadas “prostitutas, garotos de programa e travestis” para participarem das orgias. Segundo ele, “aproximadamente 120 mulheres que frequentavam ou frequentam” a ADUD foram vítimas dos abusos, pois “o pastor Marcos gosta de ver várias mulheres fazendo sexo grupal”.
Entretanto, as acusações de teor sexual não foram corroboradas por Luiz Claudio Parreira, ex-membro da ADUD e ex-gerente do tráfico de drogas na comunidade Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré.
Em entrevista à rádio Globo, Parreira afirmou que nunca soube de nenhum envolvimento do pastor com mulheres dentro da igreja, mas que chegou a apanhar de Marcos Pereira por manifestar interesse numa das fiéis.
“Eu conheci uma irmã da Igreja e me interessei por ela. Eu falei: meu irmão, eu tenho que arrumar uma irmã nesta Igreja. O cara [pastor Marcos Pereira] que me ensinou a perdoar o traficante que matou a minha família toda me agrediu. O pastor ficou sabendo que eu queria namorar a garota e me deu um soco na cara. Eu não entendi nada. Então, resolvi sair da Igreja”, disse ele.
Parreira também afirmou não acreditar que Marcos Pereira tenha relação direta com os traficantes, mas confirmou as acusações de que, quando os membros da ADUD iam pregar nas comunidades, os gerentes do tráfico davam quantias em dinheiro a eles em troca de CDs e DVDs de mensagens. Os valores sempre eram repassados ao pastor.
“O que o pastor Rogério Menezes falou é verdade. Tipo assim, vai ter culto no Morro do Dendê, o Fernandinho Guarabu [chefe do tráfico na comunidade] dava R$ 20 mil e o dinheiro era ‘para pagar’ CD e DVD. A gente dava os CDs e os traficantes davam o dinheiro pra gente, e a gente entregava na mão dele [Marcos Pereira]”, afirmou Parreira, fazendo referência ao antigo braço direito do líder da ADUD, que abandonou a denominação em dezembro de 2008, logo após tomar conhecimento das denúncias de envolvimento com tráfico, pedofilia e agressão.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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