Dois terços da população católica do mundo, hoje, está no hemisfério Sul, uma parcela que deve chegar a três quartos até a metade do século. Para discernir para onde a igreja está direcionada, é fundamental olhar para o que está borbulhando no Sul, e algumas histórias recentes merecem estar na tela do radar católico mundial.
Uma delas vem do Brasil, uma superpotência católica, entre os quatro principais países católicos em termos de população, destinado a ser um definidor do ritmo da Igreja do século 21.
No Brasil, um respeitado instituto nacional de pesquisa, a Fundação Getúlio Vargas, publicou um novo estudo que sugere que o secularismo – definido, neste caso, como o ato de jogar a toalha em termos de fé e prática religiosas – está fazendo rápidas incursões entre os jovens brasileiros.
Com base em 200 mil entrevistas realizadas para o Censo do Brasil de 2010, o estudo conclui que a parcela católica da população brasileira caiu para 68%, seu nível mais baixo desde que os dados do censo começaram a ser coletados em 1872, em parte por causa do elevado percentual de jovens que negam ter qualquer filiação religiosa.
A principal conclusão é a seguinte: o número de pessoas com menos de 20 anos que dizem não seguir nenhuma religião está crescendo três vezes mais rapidamente do que entre as pessoas com mais de 50 anos, sendo que 9% dos jovens brasileiros dizem não pertencer a nenhuma religião.
Esses resultados vão no rastro de outros dados do Brasil. Em 2007, o padre José Oscar Beozzo, que dirige o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, em São Paulo, disse que, entre 1980 e 2000, o percentual da população brasileira que se identifica como protestante, cuja maioria é pentecostal, subiu de 12% para 17%. No mesmo período, o percentual de pessoas sem filiação religiosa passou de 0,7% para 7,3%, um aumento de dez vezes.
"Esse é o movimento infinitamente mais importante na situação religiosa brasileira", disse Beozzo na época.
Em termos numéricos, o Brasil é o maior país católico do mundo, com seus 163 milhões de católicos, que representam 85% da população. Esses, entretanto, são os totais batismais, enquanto o novo estudo reflete a parcela que realmente se identifica como católica. Entre outras coisas, a diferença entre os dois indica que 17% dos brasileiros hoje nasceram católicos mas posteriormente abandonaram a Igreja.
Comentaristas apontam para alguma versão de pelo menos quatro teorias:
-- O boom econômico do Brasil, que convenceu uma parte da juventude de hoje que eles simplesmente não precisam da religião;
-- Suposto distanciamento e arrogância por parte do oficialismo católico, combinado com elementos da doutrina da Igreja que não lidam bem com a juventude de mente progressista, incluindo as posições da Igreja sobre aborto, contracepção e homossexualidade (não surpreendentemente, essa ideia é especialmente popular na ala liberal da Igreja brasileira);
-- Uma excessiva concentração na política por parte da Igreja brasileira, especialmente do que restou do movimento da teologia da libertação, com o resultado de que os jovens de hoje estão espiritualmente à deriva (esse tende a ser a explicação favorita da direita católica);
-- A crescente falta de padres no Brasil, juntamente com as dificuldades na mobilização de leigos para compensá-la (isso é o que muitas vezes se ouve da linha de frente dos agentes de pastoral do país).
Os desdobramentos no Brasil sugerem que políticas de identidade semelhantes poderiam tomar forma em outras partes do mundo católico, dando a essa tendência ainda mais resistência.
A principal conclusão é a seguinte: o número de pessoas com menos de 20 anos que dizem não seguir nenhuma religião está crescendo três vezes mais rapidamente do que entre as pessoas com mais de 50 anos, sendo que 9% dos jovens brasileiros dizem não pertencer a nenhuma religião.
Esses resultados vão no rastro de outros dados do Brasil. Em 2007, o padre José Oscar Beozzo, que dirige o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, em São Paulo, disse que, entre 1980 e 2000, o percentual da população brasileira que se identifica como protestante, cuja maioria é pentecostal, subiu de 12% para 17%. No mesmo período, o percentual de pessoas sem filiação religiosa passou de 0,7% para 7,3%, um aumento de dez vezes.
"Esse é o movimento infinitamente mais importante na situação religiosa brasileira", disse Beozzo na época.
Em termos numéricos, o Brasil é o maior país católico do mundo, com seus 163 milhões de católicos, que representam 85% da população. Esses, entretanto, são os totais batismais, enquanto o novo estudo reflete a parcela que realmente se identifica como católica. Entre outras coisas, a diferença entre os dois indica que 17% dos brasileiros hoje nasceram católicos mas posteriormente abandonaram a Igreja.
Comentaristas apontam para alguma versão de pelo menos quatro teorias:
-- O boom econômico do Brasil, que convenceu uma parte da juventude de hoje que eles simplesmente não precisam da religião;
-- Suposto distanciamento e arrogância por parte do oficialismo católico, combinado com elementos da doutrina da Igreja que não lidam bem com a juventude de mente progressista, incluindo as posições da Igreja sobre aborto, contracepção e homossexualidade (não surpreendentemente, essa ideia é especialmente popular na ala liberal da Igreja brasileira);
-- Uma excessiva concentração na política por parte da Igreja brasileira, especialmente do que restou do movimento da teologia da libertação, com o resultado de que os jovens de hoje estão espiritualmente à deriva (esse tende a ser a explicação favorita da direita católica);
-- A crescente falta de padres no Brasil, juntamente com as dificuldades na mobilização de leigos para compensá-la (isso é o que muitas vezes se ouve da linha de frente dos agentes de pastoral do país).
Qualquer que seja a explicação que se favoreça, a imagem básica parece clara: uma parcela crescente da geração mais jovem do Brasil está efetivamente se secularizando.
Isso poderia ter implicações para além das fronteiras do país, porque, dada a nova força econômica e política do Brasil, as tendências locais envolvem um vigor regional e internacional mais amplo.
Dois pensamentos sobre o significado disso:
Primeiro, a pergunta do milhão sobre a religião no hemisfério Sul foi, durante muito tempo, se o progresso econômico e político necessariamente andaria lado a lado com a secularização. Não parece haver nenhuma lei férrea. O crescimento econômico da China no último quarto de século, por exemplo, foi acompanhado por uma explosão espiritual.
No entanto, esse parece ser o caso do Brasil, que leva à seguinte reflexão: a América Latina, em alguns aspectos, está mais próxima dos padrões históricos da Europa, em que a Igreja Católica tradicionalmente foi um monopólio imposto pelo Estado. Se o secularismo tomar conta da América Latina mais do que outras regiões, isso poderia ser a confirmação final de que confiar no poder do Estado é, a longo prazo, sempre perigoso para a fé?
Segundo, a ideia fixa da classe dirigente da igreja no Ocidente se tornou a defesa da identidade católica, como um meio de proteger a Igreja contra a sua assimilação pelo secularismo. Em termos sociológicos, essa é uma "política da identidade", que é um mecanismo de defesa clássico para subculturas em apuros.
Isso poderia ter implicações para além das fronteiras do país, porque, dada a nova força econômica e política do Brasil, as tendências locais envolvem um vigor regional e internacional mais amplo.
Dois pensamentos sobre o significado disso:
Primeiro, a pergunta do milhão sobre a religião no hemisfério Sul foi, durante muito tempo, se o progresso econômico e político necessariamente andaria lado a lado com a secularização. Não parece haver nenhuma lei férrea. O crescimento econômico da China no último quarto de século, por exemplo, foi acompanhado por uma explosão espiritual.
No entanto, esse parece ser o caso do Brasil, que leva à seguinte reflexão: a América Latina, em alguns aspectos, está mais próxima dos padrões históricos da Europa, em que a Igreja Católica tradicionalmente foi um monopólio imposto pelo Estado. Se o secularismo tomar conta da América Latina mais do que outras regiões, isso poderia ser a confirmação final de que confiar no poder do Estado é, a longo prazo, sempre perigoso para a fé?
Segundo, a ideia fixa da classe dirigente da igreja no Ocidente se tornou a defesa da identidade católica, como um meio de proteger a Igreja contra a sua assimilação pelo secularismo. Em termos sociológicos, essa é uma "política da identidade", que é um mecanismo de defesa clássico para subculturas em apuros.
Os desdobramentos no Brasil sugerem que políticas de identidade semelhantes poderiam tomar forma em outras partes do mundo católico, dando a essa tendência ainda mais resistência.
Creditos:paulopes
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